sábado, 31 de janeiro de 2009

(22)-TAXA CAMARAE

O catolicismo, perdido em sua vaidade orgulhosa, ao invés de se enriquecer com os tesouros de humildade e de amor que segundo eles mesmos Jesus havia legado, passou a reclamar para si não só suntuosidade e honrarias, mas prerrogativas acima daquelas que até então eram gozadas por reis e imperadores. Assim, tendo alcançado a mais alta preponderância política - esquecendo que nos quatro Evangelhos havia sido escrito que o Cristo ensinara que o verdadeiro reino não é o deste mundo - tentou até pelos meios mais execráveis tornar-se “o único senhor” deste planeta.
A taxa Camarae é uma lista de preços divulgada no ano de 1513 pelo Papa Leão X -1513 a 1521 - cujo nome era Giovanni dei Médici - com o objetivo de encher o caixa do Vaticano através da venda de indulgências. Em outras palavras, vender o perdão a todos os pecadores que se dispusessem a pagar as altas taxas solicitadas pelo pontífice. De acordo com as respectivas particularizações, como veremos abaixo, não havia delito - por mais horrendo que fosse - que não pudesse ser perdoado pagando o respectivo preço.
1. 67 libras: custo do perdão para o eclesiástico que tivesse cometido pecado carnal com freiras, parentes, ou qualquer outra mulher.
2. 219 libras: custo do perdão para o eclesiástico que além do pecado de fornicação, tivesse pecado contra a natureza ou por bestialidade. Entretanto, se tivesse pecado contra a natureza com crianças ou animais, e não com uma mulher, o preço seria só de 131 libras.
3. 2 libras: custo do perdão para o sacerdote que deflorasse uma virgem.
4. 131 libras: custo do perdão para a religiosa que desejasse ser elevada a dignidade de abadessa depois de ter se entregue a um ou mais homens simultaneamente ou sucessivamente, no interior ou fora do convento.
5. 76 libras: custo do perdão para o sacerdote que desejasse viver em concubinato com uma parente.
6. 27 libras: custo do perdão para cada pecado de luxuria cometido por um leigo. Para os incestos, mais 4 libras.
7. 87 libras: custo do perdão para a mulher adultera que pedisse absolvição para ficar livre de qualquer tipo de processo, alem de ter permissão para prosseguir seus relacionamentos ilícitos. Em caso análogo o marido teria que pagar o mesma soma acrescida de 6 libras se tivesse cometido incesto com seus próprios filhos.
8. 131 libras: custo do perdão, acrescido da segurança de não ser perseguido, pelos crimes de roubo, rapto ou incêndio.
9. 15 libras: custo do perdão para um assassinato simples cometido contra um leigo. Mas se o assassino tivesse cometido mais que um homicídio no mesmo dia, não havia acréscimo.
10. 17 libras: custo do perdão para o marido que tivesse morto a esposa. Mas se a esposa tivesse sido assassinada para casar com outra mulher, haveria um acréscimo de 32 libras. Contudo, se tivesse contratado ajudante para esta tarefa, cada um deles para serem perdoados teriam que pagar 2 libras. Se o marido desejasse o perdão só por maltratava sua esposa, o custo limitava-se a 3 libras.
11. 17 libras: custo do perdão para a mulher que destruísse o filho que carregava em seu ventre, mas se houvesse a colaboração do pai, para este ser perdoado teria que pagar mais 17 libras. Entretanto, se o aborto tivesse sido provocado por pessoas estranhas, o custo seria reduzido em uma libra.
12. 17 libras: custo do perdão para o assassinato de um irmão, irmã, mãe ou pai.
13. 131 libras: custo do perdão para aquele que viesse a matar um bispo ou um prelado de hierarquia superior.
14. 137 libras: custo do perdão para o assassinato de um sacerdote, mas se fossem vários os sacerdotes mortos, mesmo em ocasiões diferentes, o custo do perdão para cada uma destas mortes era de 68 libras.
15. 179 libras: custo do perdão para o bispo ou abade que comete um homicídio através de emboscada, acidente, ou outros meios.
16. 218 libras: custo do perdão para aquele que desejava adquiri-lo com antecipação à data do homicídio que pretendia cometer.
17. 269 libras: custo do perdão para o herético que desejasse se converter. Mas o filho do herético que fora queimado, enforcado ou justiçado de qualquer outra forma, se desejasse se converter e ser perdoado, só tinha que pagar 218 libras.
18. 17 libras: custo do perdão para o eclesiástico que, não podendo pagar seus débitos, desejava livrar-se dos processos que seus credores tinham o direito de mover contra ele.
19. 45 libras: preço da permissão para a instalação de um ponto de venda sob as arcadas das igrejas.
20. 87 libras: custo do perdão para os contrabandistas.
21. 781 libras: custo para consentir que uma cidade permitisse que seus habitantes, incluindo os sacerdotes, frades e freiras, consumassem carne e lacticínios nas datas proibidas.
22. 45 libras: custo para permitir que um frade vivesse com uma mulher.
23. 45 libras: custo para que um apóstata, vagabundo ou coisa que o valha, pudesse viver sem ser importunado.
24. 45 libras: custo para permitir que um religioso viajasse vestindo roupas de leigo.
25. 27 libras: custo para permitir que o filho bastardo de um sacerdote, se o desejasse, tivesse preferência para suceder ao pai na cura.
26. 15 libras: custo para permitir que um bastardo recebesse ordens sagradas e gozasse seus benefícios.
27. 17 libras: custo para que um filho de pais desconhecidos pudesse ser aceito na ordem.
28. 58 libras: custo para permitir que leigos disformes recebessem ordens sagradas e gozassem seus benefícios. Soma idêntica teria que ser paga por um cego do olho direito, enquanto que o do olho esquerdo só teria qu pagar 10 libras. Os estrábicos eram taxados em 45 libras.
29. 310 libras: custo para permitir que os eunucos entrassem na ordem.
30. 131 libras: custo para aquele que, por ter faltado a um juramento, queira se ver livre de possíveis perseguições e da acusação de infâmia.
31. Aquele que por simonia (trafego de coisas sagradas ou venda de bens espirituais) desejasse adquirir um ou mais benefícios, era convidado a procurar os tesoureiros que lhes venderiam, a preços módicos, os direitos desejados.
Fonte: livro “verdades e mentiras da Igreja Católica”
de Pepe Rodriguez (Editores Reunidos 1998).

Nenhum comentário:

Postar um comentário