sábado, 31 de janeiro de 2009

(20)-TU ES PEDRO

Pedro, entre os discípulos de Jesus, foi aquele que constantemente emergiu, seja pelas suas múltiplas demonstrações de fé, como pelas suas quedas. Seu nome era Simão, filho de Jonas – filho de Jonas porque, como na epoca não havia sobrenome, era utilizado nome do pai para distinguí-lo de eventuais homônimos, mas Jesus, nos evangelhos canônicos, o chamou Pietro (Pedro) que significa pedra. O episodio que o tornou celebre entre os cristãos é aquele em que Jesus lhe diz, segundo Mateus 16:18, “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
A maioria dos fieis da teologia cristã conhecem estas palavras, mas com certeza são poucos os que têm ciência do inteiro episodio, e sabem conjugá-lo com os eventos que lhe dizem respeito.
Chegando ao território de Cesárea de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?” Responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros Elias; outros Jeremias ou um dos profetas”. Disse-lhe Jesus: “E vos quem dizeis que eu sou? Simão – aquele que havia recebido o nome de Pedro respondeu: ”Tu es o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isso, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Depois, ordenou a seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.
É com estas palavras, que segundo Mateus teriam sido ditas por Jesus a Pedro, que o Magistério da igreja católica vê a elevação de Pedro ao posto de chefe da igreja. Destarte, se Pedro fora elevado a chefe da igreja, ele se tornara o bispo de Roma. O papa, então - segundo o mesmo Magistério - é o legitimo sucessor de Pedro. É por essa razão que quando um novo papa está sendo coroado ouve do cardeal que lhe coloca a tiara na cabeça estas palavras: “Receba a tiara adornada por tres coroas e saiba que es o pai dos príncipes e dos reis, o reitor do mundo, o vigário na terra do Salvador nosso Jesus Cristo, que é honra e gloria nos séculos dos séculos”.(assim escreveu Silvio Romani na enciclopédia do cristianismo no item: coroação).
A pergunta que agora cabe formular é a seguinte: As palavras que Jesus endereçou a Pedro, ou seja, Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, realmente destinavam-se a elegê-lo chefe da igreja?
Como foi dito, o Magistério da igreja católica vê nessas palavras a elevação de Pedro a chefe da igreja. Hoje o chefe da igreja é o bispo de Roma - o papa - porque segundo o mesmo Magistério, ele é o legitimo sucessor de Pedro, isso porque na Constituição “De Eccelsia” do Concilio Vaticano II, foi ratificado esse entendimento. Nela lê-se:
“Certamente Pedro foi constituído por Jesus como pedra fundamental da sua igreja e Pastor supremo de todas as suas ovelhas, isso lhe deu a supremacia sobre os fieis e sobre os apóstolos que se perpetua no Pontífice romano. (Constituição” De Ecclesia “: Editora Citta Nuova, pág.14)”.
O autor católico Silvio Romani complementa ainda: “Se o sucessor de Pedro não é o papa, nenhum outro é, e não sendo, nenhuma igreja seria a igreja do Cristo, e o catolicismo fundado por Cristo, como Ele quis, teria sido encerrado na epoca do imperador Nero com a crucificação de Pedro. Se tivesse acontecido isso, a mais solene promessa do Cristo teria sido desmentida trinta anos depois. O papa, assim sendo, é investido dos mesmos poderes e deveres de Pedro, alem das mesmas prerrogativas como a igreja nos últimos XX séculos demonstrou”.
O mesmo autor, falando do primado de Pedro, ainda diz: Primado: poder superior conferido por Jesus a Pedro que contem em si mesmo não só uma proeminência honorifica, mas também uma verdadeira e pessoal autoridade e a jurisdição sobre todos os apóstolos. Do Evangelho resulta claramente a promessa desse primado: Tu és Pedro etc.
Vamos formular agora duas perguntas:
· Pedro efetivamente foi elevado ao posto de chefe da igreja por Jesus?
· Pedro efetivamente exerceu esse primado no seio da igreja primitiva?
Existem várias razões para responder com um não a estas perguntas, e entre elas as duas que abaixo aludimos:
A declaração de Jesus: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” só é citada pelo evangelista Mateus. Os demais tres evangelistas concluem o mesmo episodio com os dizeres “Tu és o Cristo”, conforme se le nos Evangelhos de Marcos 8:29; Lucas 9:20; João 6:68, 69.
O fato de Mateus ser o único a narrar este episodio, como mínimo cria uma situação delicada, porque na maioria dos acontecimentos, mesmo os de menor importância, as descrições dos quatro evangelistas, se não idênticas, são semelhantes. Por que razão, então, os tres evangelistas omitiram as palavras de Jesus endereçadas a Pedro?
Segundo alguns analistas essas palavras de Jesus teriam sido incluídas no evangelho de Mateus no IV século, com a finalidade de fortalecer a tese que Pedro havia sido constituído por Jesus chefe de toda a igreja, e por redundância, que o bispo de Roma, nomeado papa, era o seu único e legitimo sucessor.
Mas os Evangelhos contem outras descrições que consolidem que Pedro não foi elevado ao posto de chefe da igreja por Jesus? Sim, como veremos.
Evangelho de Lucas:
Lucas 22:24-27. Surgiu também entre eles uma discussão: qual deles seria o maior. E Jesus disse-lhes: Os reis dos pagãos dominam como senhores, e os que exercem sobre eles autoridade chamam-se benfeitores. Que não seja assim entre vos; mas o que entre vos é o maior, torne-se como o ultimo; e o que governa seja como o servo. Pois qual é o maior: o que está sentado à mesa ou o que serve? Não é aquele que está sentado a mesa? Todavia, eu estou no meio de vos, como aquele que serve.
Essa disputa aconteceu entre os discípulos depois da celebração da ultima ceia, quando eles começaram a intuir que Jesus falava da sua morte. Aconteceu, portanto, muito tempo depois do momento em que Jesus teria dito a Pedro “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Podemos concluir, por conseguinte, que se estas palavras tivessem sido efetivamente ditas, ou se na hipótese de terem sido ditas, tivessem o objetivo de nomear Pedro o chefe da igreja, essa disputa entre os discípulos não teria acontecido. Claro, saberiam, por ter ouvido pessoalmente as palavras de nomeação de Jesus, que Pedro era o Chefe da igreja, destarte, o maior.
Evangelho de Mateus:
Mateus 23:8-12. Mas vos não vos façais chamar rabi, porque um só é o vosso preceptor, e vos sois todos irmãos. E a ninguém chameis de Pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem vos façais chamar de mestre, porque só tendes um mestre, o Cristo. O maior dentre vos será vosso servo. Aquele que se exaltar será humilhado e aquele que se humilhar será exaltado.
Esse discurso também foi feito muito depois de ter sido hipoteticamente dito a Pedro “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, e mais uma vez através dele dissipa-se qualquer idéia a respeito da elevação de Pedro ao comando da igreja, porque com essa declaração Jesus estabeleceu dois princípios:
1. A perfeita igualdade entre os discípulos, porque nenhum deles poderia se fazer chamar rabi ou mestre.
2. Com essa categórica proibição afirmou que estes atributos pertenciam exclusivamente a Jesus e ao Deus Pai que está nos céus.
Jesus estabeleceu a igualdade entre todos os apóstolos e todos os membros da igreja local e universal, e nomeou o “Paraclito” seu único representante, não um homem. É oportuno entender, alem disso, uma vez que o versículo abaixo não deixa duvida, que: “Se alguém me ama... meu Pai o amará e nos viremos a ele e nele faremos nossa morada” Ele não fala em igrejas, templos ou qualquer outra edificação similar, mas em pessoas e é nelas, onde elas estiverem, que farão a sua morada.
João 14:23-26. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nos viremos a ele e nele faremos a nossa morada. Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou. Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paraclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito.
É por essa razão que Gregório I, dito Magno, bispo de Roma, escreveu uma carta ao Patriarca de Constantinopla João o jejuador, que havia assumido o titulo de bispo universal, dizendo-lhe: “Eu declaro positivamente e deliberadamente que quem quer que seja que se faça chamar Bispo Universal, ou que queira ser chamado por este titulo, possue o orgulho e o caráter do anti-Cristo.” (Ep.VI,80: citada por E.Meynier em “Storia dei Papi”, tipografia Alpina Torre Pellice 1932 pág.71)

No trabalho de redação dos Evangelhos, que constituem, sem duvida, o portentoso alicerce do cristianismo, verificara-se, nessa epoca, algumas dificuldades para que se lhes desse o preciso caráter universalista.Todos os apóstolos do Mestre haviam saído do teatro humilde de seus gloriosos ensinamentos; mas, se esses pescadores valorosos eram elevados espíritos em missão, precisamos considerar que eles estavam muito longe da situação de espiritualidade do Mestre, sofrendo as influencias do meio a que foram conduzidos.
Tão logo se verificou o regresso do Cordeiro às regiões da Luz, a comunidade cristã, de modo geral, começou a sofrer a influencia do judaísmo, e quase todos os núcleos organizados, da doutrina, pretenderam guardar feição aristocrática, em face das novas igrejas e associações que se fundavam nos mais diversos pontos do mundo.
É então que Jesus resolve chamar o espírito luminoso e enérgico de Paulo de Tarso ao exercício do seu ministério. Essa deliberação foi um acontecimento dos mais significativos na historia do cristianismo. As ações e as epistolas de Paulo tornaram-se poderoso elemento de universalização da nova doutrina. De cidade em cidade, de igreja em igreja, o convertido de Damasco, com o seu enorme prestigio, fala do Mestre, inflamando os corações.
A principio, estabelece-se entre ele e os demais Apóstolos uma penosa situação de incompreensibilidade, mas sua influencia providencial teve por fim evitar uma aristocracia injustificável dentro da comunidade cristã, nos seus tempos inesquecíveis de simplicidade e pureza.
Fonte: Livro “A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
E psicografado por Francisco Candido Xavier.

Nenhum comentário:

Postar um comentário