segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

(11)-CRISE DA REPÚBLICA

Profundas mudanças aconteceram em Roma depois das guerras púnicas e a conquista da Grécia e do Oriente, e estas mudanças foram causadas pela difusão da cultura helenística. Naquela epoca muitos artistas gregos deixaram sua pátria e se estabeleceram em Roma, enquanto os romanos ricos passaram a transcorrer cada vez mais tempo na Grécia e no Oriente. Estes fatos alteraram drasticamente os valores morais dos romanos.
Os ricos senadores começaram a se apossar das terras do Estado, independentemente das reclamações dos patrícios, enquanto a classe media, sobretudo os pequenos agricultores que além disso eram os que constituíam a força do exército, iam se empobrecendo cada vez mais. Para solucionar estas dificuldades, Tibério e Caio Gracco se esforçaram para tentar promover uma reforma agrária, reforma essa que, além de não ser aceita, transformou-se em um banho de sangue.
Depois de dez anos de paz, garantidos pelos senadores oligárquicos, começou um período difícil no qual a rivalidade dos partidos políticos ocasionou a primeira guerra civil, tendo por um lado Silas - liderando os mais favorecidos, e do outro Mario - defendendo os interesses do povo. Silas levou a melhor, mas, depois de ter restaurado o poder dos patrícios e desautorizado aqueles que defendiam a plebe, retirou-se para a vida privada e pouco depois morreu. Roma estava diante da segunda guerra civil.
O encontro com as culturas helenísticas, determinado pela extensão do domínio romano até a Grécia, a Macedônia e parte da Ásia Menor, provocou em Roma uma cisão, e por conseguinte, a formação de duas correntes: a conservadora de Marco Porcio Catone - que defendia o retorno aos antigos costume e valores romanos, e a inovadora, promovida pelo circulo dos Cipiões que, mesmo não negando os antigos costumes e valores, apreciavam a cultura grega a ponto de importar seu patrimônio.
A classe dirigente, a dos Senadores, se enriquecera e consolidara seu poder durante as guerras, enquanto que a média empobrecera, mas enquanto estas duas se afastavam, outra classe nascera: a dos cavaleiros (ordem eqüestre) e esta começou a exigir do Senado o que julgava que era seu direito.
As grandes riquezas que afluíam das regiões conquistadas, permitiram aos ricos adquirir do Estado romano grandes extensões territoriais nas regiões que haviam sido confiscadas aos povos vencidos. A abundância de terras, como se repetiria sucessivamente ao redor do mundo, criou a necessidade de braços para explorá-la, de tal modo sendo, a partir daquele momento em Roma começou a se difundir o latifúndio e a escravidão. Além disso, muitos pequenos proprietários empobrecidos, passaram a migrar para Roma sonhando enriquecer, ou, na pior das hipóteses, melhorar suas condições econômicas.
A primeira tentativa de reforma foi liderada por Tibério Gracco, um patrício eleito tribuno pela plebe no ano 133 a.C., e a sua proposta, que era reeditar a lei que proibia a quem quer que fosse de possuir mais de 125 hectares de terras públicas, foi derrubada pela aristocracia senatorial. Depois da derrota, Tibério foi assassinado em um tumulto e seus seguidores foram condenados à morte.
Estes acontecimentos afligiam os itálicos, porque estes se por um lado se viam tolhidos de suas terras, do outro, por não serem cidadãos romanos, não tinham o direito de pleitear outras. Muitos itálicos se rebelaram, mas estes foram duramente punidos.
Em 123 a.C., Caio Gracco, irmão menor de Tibério, depois de ter sido eleito tribuno, envolveu-se em reformas ainda mais radicais das que haviam sido cogitadas por seu irmão. Primeiramente buscou o apoio da classe eqüestre, os cavaleiros, organizando-se para que estes tivessem presencia maior do que os senadores nos tribunais, e para ganhar o favorecimento da plebe, promoveu a fundação de novas colônias e propôs a ”Lex frumentaria”, um estatuto para que os cidadãos menos favorecidos recebessem trigo a preço subsidiado.
No seu segundo mandato como tribuno, Caio Gracco apresentou um projeto para conceder a cidadania romana aos itálicos. Os senadores, que não o queriam, fortaleceram o tribuno Livio Druso para sobrepujá-lo por meio de reformas demagógicas: a abolição do cânone que proibia a locação de terras pelos pequenos proprietários e a fundação de novas colônias. Sua atuação acabou por ofuscar a popularidade de Caio. Não satisfeitos, em clima de tensão e conflitos internos, em 121 a.C. o Senado aprovou o “Senatus consultum ultimum”, um procedimento que conferia aos cônsules, entre os quais Lucio Opimio adversário de Caio, plenos poderes para defender o Estado com o meio que julgassem oportunos. Caio Graco, vencido, pediu a seus servos que o matassem. Em seguida, seus seguidores, aproximadamente 3000, foram massacrados.

Em breve os abusos da autoridade e do poder embriagaram a cidade valorosa. Toda a sede do governo parecia invadida por uma avalancha de forças perversoras, das mais baixas esferas dos planos invisíveis.
A família romana, cujo esplendor espiritual conseguiu atravessar todas as eras, iluminando os agrupamentos da atualidade, parecia atormentada pelos mais tenazes inimigos ocultos, que, aos poucos, lhe minaram as bases mais sólidas, mergulhando-a na corrupção e no extermínio de si mesma, dada a auxencia de vigilância de suas sentinelas mais avançadas. Denso nevoeiro obscurecia todas as consciências, e a sociedade alegre e honesta, rica de sentimentos enobrecedores, foi pasto de crimes humilhantes, de tragédias lúgubres e miserandos assassinos. As classes abastadas aproveitavam a pletora de poder instalando-se no carro da opressão, que deixava atrás de si um rastro fumegante de revolta e de sangue. Os Gracos, filhos da veneranda Cornélia, são quase que os derradeiros traços de uma epoca caracterizadas pela administração enérgica, mas equânime, cheia de honestidade, de sabedoria e de justiça.
Fonte: livro “A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
E psicografado por Francisco Candido Xavier

Eliminados os irmãos Graccos, a oligarquia senatorial, buscando favorecer os cavaleiros e o povo através de pequenas concessões, ganhou prestígio.
Entre o ano 125 e 118 a.C., Roma reduziu a Gália meridional a uma província, e logo depois teve que intervir na África - na Numídia - onde Jugurta, apos ter assediado a cidade de Cirta e usurpado o trono de Aderbal, seu rei (que havia solicitado ajuda à Roma), massacrara os romanos e itálicos que la residiam.
Em 111 a.C. iniciou a guerra que se estendeu até 107 a.C. quando o comando passou para o Cônsul Caio Mario, apoiado por Cornélio Sila. Coube a Sila vencer e aprisionar Jugurta, que havia se tornado o rei da Numídia, para que fosse justiçado (morreu na prisão em 104 a.C.), mas findo o conflito, as honras foram atribuídas a Caio Mario que foi reeleito Cônsul, enquanto Sila, revoltado, nem foi lembrado.
A força política do Cônsul Caio Mario, tornou-se ainda maior depois que conseguiu que os voluntários que serviam o exercito, até então sem soldo, também recebessem um salário. Esta estratégia, aliada a um programa avançado de adestramentos e ao aprimoramento das táticas de guerra, permitiu a Mario, reeleito Cônsul em 103 a.C., vencer os Cimbri e os Teutoni, populações germânicas que invadiam as regiões limítrofes setentrionais.
No ano 100 a.C. o tribuno plebeu Lucio Apeleio Saturnino, apoiado pelo pretor Gaio Servilio Gláucia, fez aprovar uma lei para distribuir gratuitamente terras na Gália Cisalpina aos veteranos do exercito de Mario. O Senado, contrariado, ordenou que Mario se “livrasse” de Lucio e Gaio, mas quando este mandou matá-los o partido dos plebeus se revoltou. Mario, então, teve que abandonar a vida pública e se transferiu para a Ásia.
O partido dos ottimati, que reunia os políticos e os ricos, governou sem dificuldades por cerca de dez anos, entretanto, em 91 a.C., Livio Druso, filho do Druso de quem já falamos, elegeu-se Tribuno, e como tal, defendendo as idéias que já haviam sido propostas pelo pai, sugeriu que alguns cavaleiros fossem promovidos a Senadores, e que aos Itálicos fosse concedida à cidadania romana. O Senado, aborrecido, mandou matá-lo, mas esta atitude revoltou os Itálicos que se insurgiram para exigir a sua independência. Com esta finalidade muitas populações, guiadas pelos Mársios e Sanitas, se uniram e criaram um Estado Federal Itálico e a Capital, sediada em Corfinio, foi chamada Itálica.
Quando isso aconteceu, os romanos chamaram Mario, que continuava na Ásia, para combater os Mársios, enquanto as demais operações militares contra o novo Estado Federal Itálico foram conduzidas por Pompeu Strabone e Cornélio Sila, este ultimo eleito em 88 a.C. quando em Roma o Senado decidira conceder a cidadania romana a todos os itálicos que não se haviam rebelado, e para aqueles que, integrando o exercito rebelde, depusessem as armas. Mesmo assim, a luta continuou até que no ano 80 a.C. os Sanitas foram domados.
Neste mesmo período, Mitridates, rei de Ponto (antigo reino no nordeste da Ásia Menor independente dos Persas desde 302 a.C.), estava se preparando para liderar uma rebelião, da qual tomavam parte todos os Estados gregos e asiáticos que lhe eram dependentes, contra Roma. O senado, quando o soube, enviou um exercito comandado por Sila, enquanto o Tribuno Sulpicio Rufo, que tinha elaborado um projeto para dividir os itálicos nos mesmos 35 grupos que existiam antes de se revoltarem, e não em um número maior como alguns queriam, ao seu projeto anexou outro no qual propunha aos tribunos e cavaleiros que Mario fosse enviado para a Ásia Menos para substituir Sila. Estes, que não viam Sila com bons olhos, aprovaram os dois projetos imediatamente.
Sila, no entanto, não somente não acatou a decisão de Roma, mas enfrentou as forças o exercito de Mario. Vencido, enquanto fugia, Sila marchou sobre Roma e restabeleceu o poder anterior. Anos depois, em 87 a.C., o Senado ratificou Sila no comando do exercito destinado ao oriente cujas tropas, tempo depois, na Grécia venceram e saquearam a cidade de Atenas porque esta se havia aliado a Mitridates.
Mario, porem, inconformado com a derrota, ajudado pelo Cônsul Lucio Cornélio Cinna, constituiu e comandou um novo exército que depois de invadir Roma matou seus inimigos. Um ano depois, em 86 a.C., Mario morreu.
Sila venceu Mitridates, e em 83 a.C. voltou para a Itália. Auxiliado por Gneu Pompeu, combateu os seguidores de Mario e os itálicos. Vitorioso, se fez nomear ditador e inicio um sem numero de ferozes repressões contra todos seus adversários: confiscou muitas terras, que doou a seus soldados, e enriqueceu as custas daqueles que perseguiu. Devolveu o poder ao Senado, e por redundância limitou o dos tribunos e cavaleiros. Poucos anos depois abdicou do status de ditador e se retirou.

Depois de Caio, assassinado no Aventino, embora se fizesse supor um suicídio, instala-se definitivamente um regime de quase completa dissolução das grandes conquistas morais realizadas.
Sobe Mario ao poder, depois da vitória contra os germanos, que haviam, por sua vez, invadido o território das Gálias. Mas os antagonismos sociais levam Sila ao poder, travando-se lutas cruentas, como vésperas escuras de sangrentas derrocadas. Em seguida, surgem Pompeu e a revolução de Catilina, muito conseguindo a prudência de Cícero em favor da segurança da cidade. Verifica-se, logo após, o primeiro triunvirato com a política maneirosa de Caio Julio Cezar, que se alia a Pompeu e a Crasso para as supremas obrigações do governo.
As citações históricas, todavia, desviariam os objetivos do nosso esforço. Nossa intenção é mostrar que o determinismo do mundo espiritual era o do amor, da solidariedade e do bem, mas os próprios homens, na esfera relativa de suas liberdades, modificaram esse determinismo superior, no curso incessante da civilização.
Os generais romanos podiam conquistar a ferro e fogo, desviando-se dos objetivos mais sagrados dos seus deveres e obrigações, levando aos outros povos, pela força das armas, os liames que somente deveriam utilizar com a sua cultura e experiência de vida; mas seus atos originaram os mais amargos frutos de provação e sofrimento para a humanidade terrestre, e é por isso que, em sua quase totalidade, entraram no plano espiritual seguidos de perto pelas suas numerosas vitimas, entre as vozes desesperadas das mais acerbas acusações. Muitos deles, decorridos decênios infindáveis de martírios expiatórios, podiam ser vistos sem as suas armaduras elegantes, arrastando-se como vermes ao longo das margens do Tibre, ou estendendo as mãos asquerosas, como mendigos detestados do Esquilino.
Fonte: livro “A Caminho da Luz” prelo espírito Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier

Nenhum comentário:

Postar um comentário