segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

(4)-ORIGENS DE ROMA

Em relação ao nascimento de Roma, como já foi citado, são mais ricas as lendas do que os conhecimentos reais, porque estes carecem de documentação. Entretanto, em todas elas há sempre um fundo de verdade.
Cerca de 1500 anos a.C., alguns navios que há longo tempo navegavam pelos mares procurando um local para atracar, chegaram a uma terra desconhecida. Cansados, nela desembarcaram. Aqueles homens eram os únicos sobreviventes de uma cidade que depois de ser cercada por dez anos pelos gregos, havia sido por eles saqueada, destruída e queimada: Tróia. Deste modo, quando receberam a ordem para desembarcar, os troianos ficaram felizes porque diante de seus olhos se estendia uma região de aspecto sereno e acolhedor, onde um rio majestoso irrompia no mar mesclando suas tumultuosas águas amareladas com as ondas azuis. A região era o Lazio, o rio era o Tibre - na língua italiana Tevere - e o comandante da frota era Enéias, o príncipe troiano filho de Afrodite e de Anquises.
Enéias, quando percebera que Tróia irreversivelmente ia cair sob o furioso assalto dos gregos, preocupou-se em salvar seu filho e seu pai, carregando este ultimo em suas costas. O pai morrera durante a longa viagem, e seu filho, era Ascânio.
A vida e as atividades de Enéias são maravilhosamente narradas no poema “Eneide”, escrito por Virgilio, assim sendo, aqui são citadas apenas as que dizem respeito à fundação de Roma. Naquele tempo, o Lazio era habitado por vários povos: os Etruscos, os Volsci, os Sabinos, os Equios, os Rútuli e os Ausoni. Entre as populações mais importantes que habitavam um grupo de cidades construídas ao longo das margens do Tevere, havia a dos Latinos, cujo rei, chamado Latino, acolheu os troianos com benevolência e os hospedou. Depois de algum tempo, conhecendo-os, ofereceu sua filha Lavinia a Enéias como esposa, mesmo se esta já havia sido prometida a Turno, o rei dos Rútuli. Este, a seguir de tomar conhecimento do ocorrido, sentindo-se ofendido declarou guerra aos latinos crente que desse modo lavaria sua honra. Foi uma guerra feroz que só se concluiu quando Enéias matou Turno no fim de um longo duelo.
Seguiu-se um longo período de paz, e ao longo dele, Enéias fundou a cidade de “Lavinium” em homenagem a sua esposa, e seu filho Ascânio, já adulto, fundou outra cidade que veio a ser batizada “Albalonga”.
Muitos anos depois da morte de Ascânio, “Numitor” foi nomeado rei de Albalonga, mas seu irmão Amulio, invejoso, querendo o trono para si, com um ardil fez colocar Numitor na prisão, e obrigou a filha deste, Rea Silvia, a se tornar uma sacerdotisa. Alguns anos depois, o deus Marte enviou dois gêmeos para Rea Silvia, e estes receberam o nome de Rômulo e Remo.
Quando o rei Amulio soube que a sacerdotisa havia gerado gêmeos, ordenou que estes fossem raptados e mortos. Mas o servo que recebera a incumbência, sem coragem para executá-la, colocou os irmãos em uma cesta de vime e deixou que as águas do rio Tevere a levassem.
Naquela mesma noite, um velho pastor chamado Fáustolo, que estava sentado diante da sua cabana - quase à margem daquele rio - aguardando que sua esposa Laurência o chamasse para o jantar, viu uma sombra se esgueirar entre as arvores do bosque indo na direção do rio. Curioso, a seguiu, mesmo tendo ciência que correria alguns riscos, porque devido às muitas chuvas que haviam caído, o rio transbordara e havia muitas áreas alagadas. Logo, perplexo, se deu conta que sob uma arvore havia duas crianças que estavam sendo amamentadas por uma grande loba. Não sabendo o que fazer, foi consultar sua esposa. Em seguida os gêmeos foram recolhidos e adotados pelo casal.
Os anos transcorreram, e ao longo deles os gêmeos cresceram e se tornaram jovens fortes e saudáveis. Um pouco selvagens, talvez, mas de bom caráter. Fáustolo os chamou Rômulo e Remo, e os dois, na mesma proporção em que cresciam, se afastavam um pouco mais da cabana a procura de aventuras.
Um dia, depois de terem sido esclarecidos em relação à suas origens, desejando conhecer quem eram os pais, começaram a pesquisar e colher informações. Tempos depois, finalmente descobriram o que acontecera. Indignados, foram a Albalonga. Feita a justiça, seu avo Numitor foi libertado e Amulio castigado.
Terminada a tarefa, e obtendo a anuência do rei avó, voltaram ao local onde haviam crescido e ai fundaram uma cidade. Mas quem, entre os dois, lhe daria o nome? Decidiram resolver o impasse observando o vôo dos pássaros. Quem visse o maior numero escolheria o nome. A sorte favoreceu Rômulo, e este, pegando um arado, traçou um sulco sobre a colina chamada “Palatino” para demarcar as muralhas dentro das quais a cidade de Roma - o nome por ele escolhido – seria construída. Era o dia 21 de abril do ano 753 a.C.
Roma, mal nascia, e já fizera de Remo a sua primeira vitima. Os gêmeos haviam estabelecido que ninguém, por nenhuma razão, poderia ultrapassar o sulco traçado sem a autorização de Rômulo que era o seu autor. Mas Remo, por brincadeira, o ultrapassou e rindo disse ao irmão: olha como foi fácil invadir Roma! Rômulo, irado, brandiu a espada e o matou dizendo: quem quer que seja que ofenda o nome de Roma tem que morrer.
Depois de criar a cidade, entretanto, havia necessidade de encontrar pessoas para habitá-la, e com esta finalidade, Rômulo convidou os pastores das zonas adjacentes... mas entre eles não havia mulheres. Resolveu então organizar uma festa e convidar os sabinos, desde que estes trouxessem esposas e as filhas. Durante a festa, entre cantos e danças, no momento em que o sinal foi dado, os jovens pastores romanos, armados de punhais, raptaram as sabinas e afugentaram os homens. Estes, porem, liderados por Tizio Tazio, rei das tribos sabinas dos Curiti, se prepararam e voltaram para libertar suas mulheres e se vingarem.

Na cidade de Roma, na Praça “della Sinhoria”, está exposto um dos trabalhos mais famosos de Jean de Boulogne: uma escultura em mármore com 4,10 metros de altura representando o rapto das Sabinas.
Uma das moças raptadas, chamada Tarpeía, vendo-os chegarem, as escondidas abriu uma das portas da cidade, mas pagou seu gesto com a morte porque acabou sendo esmagada pelos escudos romanos. Gerações depois, o nome Tarpeía foi dado ao rochedo de onde os criminosos romanos eram precipitados.
Adentradas as muralhas, os sabinos lançaram-se contra os guerreiros romanos, mas quando a batalha esquentou, as mulheres intervieram e fizeram com que as partes selassem um armistício. Muitas delas já se haviam afeiçoado aos esposos romanos, e não desejavam que a contenda continuasse porque se de um lado havia os esposos, do outro havia pais e irmãos. A conclusão foi que Rômulo e Tito Tazio reinaram junto sobre a cidade, e os sabinos e os romanos se fundiram em um só povo. Os romanos ganharam o apelido de “Quiriti” - uma derivação do nome “Curiti”, que era o das tribos de Tito Tazio. Rômulo governou a cidade sabiamente, mas um dia, durante um temporal, foi levado pelo deus Marte e desapareceu no céu.
Sob o governo de Túlio Hostílio - segundo a tradição o terceiro rei de Roma – foi deflagrada uma guerra entre Roma e Albalonga. Entretanto, para evitar derramamento de sangue, as partes acordaram que cada lado nomearia tres guerreiros para os representar. Os romanos escolheram tres irmãos chamados “Orazi”, e os albalonga outros tres irmãos chamados “Curiazi”. Depois de algum tempo a peleja era desfavorável aos romanos, porque dois deles haviam morrido enquanto do outro lado havia dois feridos. O soldado romano, percebendo suas limitadas chances, recorreu a um ardil: fingiu fugir e, quando foi alcançado pelo mais veloz dos Curiazi, logicamente o que permanecera incólume, o enfrentou e matou. Em seguida chegou um dos feridos, o que se encontrava em melhores condições, porem, por estar debilitado, foi facilmente vencido. O terceiro, por estar muito ferido, teve o mesmo fim. A conseqüência foi que a cidade de Albalonga, e todo o seu território, passou a ser dominada por Roma.
De acordo com os historiadores, entretanto, as cidades que se espalharam nas sete colinas entre o IX e o VIII século a.C. (Roma foi erguida sobre sete colinas), se transformaram em uma instalação urbana que escolheu a monarquia como forma de governo, e esta se manteve até 509 a.C.
Deposto o ultimo rei, com a intervenção sucessiva dos Cumani e Latini, aliada à maturação, no ambiente aristocráticos romano, de uma aversão progressiva em relação à instituição monárquica. Esta foi abolida e foi instituído o regime republicano.
Entre o VIII e o I século a.C., para se defender da invasão etrusca, a cidade do Palatino, ampliada e aguerrida desde a invasão precedente, fundiu-se com as demais: Aventino, Esquilino, Celio, Viminale Quirinale e Capitolino. Desta fusão, da qual permanece como lembrança a festa religiosa de “Septimontium” para sublinhar o caráter religioso da união, e com a anexação das demais populações Sabinas, Roma se fortaleceu.
Segundo a tradição, Roma foi governada por sete reis até o ano 509 a.C. (provavelmente foram mais do que sete), e destes, a origem dos primeiros quatro foi Latino-Sabina e dos demais, Etrusca.
Morto Rômulo durante um temporal - os romanos acreditaram que havia subido ao céu levado pelo deus Marte - passou a ser cultuado com o nome de Quirino.

A loba amamentando Rômulo e Remo
Os reis:
· Rômulo, o fundador de Roma.
· A Numa Pompilio são atribuídas à introdução das primeiras instituições religiosas, a reforma do calendário com o ano de 12 meses e 365 dias e a ocupação da fortaleza etrusca situada no Janículo - uma das sete colinas de Roma à direita do Tevere.
· A Túlio Hostílio são atribuídas as primeiras ações militares: a conquista de Albalonga, a vitória dos Orazi (os tres irmãos romanos) e a expansão através da conquista das populações limítrofes.
· A Anco Marcio é atribuída à conquista da cidade de Ostia, perto da foz do Tevere, através da qual Roma conquistou o acesso ao mar, e através disso, o contato com os etruscos, cartaginense e gregos.
· Tarquínio Prisco foi o primeiro rei de origem etrusca. Mandou construir o Circo Massimo, o templo de Zeus e Capitolino, e a Cloaca Máxima. Na área administrativa aumentou o número de senadores de 100 para 200, admitindo ainda o acesso ao cargo também por méritos pessoais, quando até então era exclusivo aos nobres por nascimento.
· Sérvio Tullio, o segundo rei etrusco, expandiu ulteriormente o domínio de Roma para o sul, elaborou uma nova constituição a partir de um censo, e elevou para 300 o número de senadores.
· Tarquínio o soberbo, terceiro e ultimo rei etrusco de Roma, foi um rei déspota e cruel. Suspendeu a constituição e governou arbitrariamente utilizando todos os métodos escusos que necessitou para seus fins.
Segundo a tradição, o último rei, perseguido pelos romanos, pediu ajuda a Lucumone di Chiusi, Porsena, que por sua vez foi vencido pelos heróis Orazio Coclite e Muzio Scevola. Contudo, segundo Tácito, foi o próprio Porsena a perseguir Tarquínio o soberbo. Com o afastamento de Tarquínio, tomou corpo o conceito republicano.
Porsena, depois de ter sido vencido por Orazio Coclite, juntou forças e assediou a cidade de Roma por tanto tempo que ela já não tinha mais como resistir. Então, um jovem romano chamado Caio Muzio, vestido como um guerreiro etrusco, de noite esgueirou-se no acampamento inimigo decidido a matar o rei Porsena. Mas, por ter entrado na tenda errada, matou um de seus oficiais. Preso e conduzido diante de Porsena, corajosamente colocou a mão direita dentro de um braseiro e disse “Queria te matar para salvar Roma, mas como a minha mão errou o alvo, a castigo, queimando-a”. Mas lembre-se, rei, eu sou o primeiro dos trezentos romanos que juraram repetir o meu feito se o precedente falhar. Porsena, maravilhado com a coragem do jovem romano, desfez o assedio e levou suas tropas embora. Caio Muzio, dito Scevola, que significa canhoto, até hoje é considerado um herói.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Primeiramente parabéns pelo texto. Meu esposo é de sobrenome TAZIO, provavelmente descendente centenas de gerações de Tito Tazio? Vamos à Roma em breve, onde poderíamos visitar locais históricos sobre a fundação de Roma, ou relacionados à Tito? Obrigada!

    ResponderExcluir